Quem salva um semelhante de se afogar faz o que está moralmente correto, quer o seu motivo seja o dever, quer seja a esperança de ser pago pelo seu incómodo. Mill - Será que é mesmo assim?
Stuart Mill expõe uma situação que envolve um indivíduo em perigo de morte e diz que devemos salvar a pessoa em causa, independentemente dos motivos e interesses em realizar esta ação. Tal cenário levanta a seguinte pergunta: “Salvar um indivíduo para ser pago pelo seu incómodo é moralmente correto?” Kant e a sua ética deontológica defendem que uma ação só é moralmente correta se for feita por dever, isto é, se for apenas motivada pela boa vontade seguindo o imperativo categórico, “- faz x sem mais”. Este imperativo categórico é absoluto e incondicional. Mill ao descrever esta situação desvia-se das ideias de Kant, uma vez que este centra a sua ética na intenção, ao contrário de Mill que procura o fundamento da moralidade nas consequências com uma preocupação hedonista, voltado para a imparcialidade das ações. O utilitarismo de Mill opõe-se a Kant, pois considera que o filósofo defende uma ética demasiado exigente, desvalorizando os interesses sociais e preocupando-se apenas em salvar a pessoa pelo dever. Mill interroga-se sobre o indivíduo para poder decidir salvá-lo ou não. Podemos usar o imperativo hipotético: - Se salvares o sujeito então serás recompensado, e todos ficam felizes. Digamos agora, que o sujeito seria um assassino. Mill optaria por deixá-lo afogar-se para gerar a felicidade e o alívio da sociedade, enquanto que Kant salvaria o sujeito obrigatoriamente porque era esse o seu dever. Kant poderia contra-argumentar que, se seguirmos o consequencialismo de Mill vamos enfrentar dificuldades em situações reais e vamos instrumentalizar as pessoas pois estamos diante de uma ética de meios ancorada ao imperativo hipotético esvaziado de conteúdo moral. Pessoalmente, acredito que a ética de Mill se adequa melhor à vida real e é nesta ética que apoio as minhas ações. Temos o exemplo dos tribunais, em que a justiça deve ser imparcial, mas na tomada de decisões a aplicação de penas, tem sempre em conta fatores pessoais do criminoso levando a que se definam penas menos duras ou mais duras, conforme a consequência. Kant e Mill diferem quanto à sua posição frente ao cenário descrito de afogamento, sendo que Kant diz que devemos salvar o indivíduo sempre e sem esperar algo em troca, apenas por dever, porque a moral deontológica é uma moral da intenção. Já Mill olha para as consequências da ação e a partir daí decide se salva ou não. Eu vou ao encontro de Mill porque acredito que se adequa melhor aos nossos interesses enquanto seres sociais.
Martin Koppitz, n. 22, 10H
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