Será que tudo o que o homem faz é uma ação?

Na filosofia, podemos distinguir dois conceitos que são muitas vezes confundidos: a ação e o acontecimento. Isto pode acontecer pelo simples facto de se impor o problema do livre-arbítrio. Uma ação é uma interferência voluntária, realizada de forma consciente e com intenção por parte de um agente, o ser humano, que é um ser biológico,social, e racional.  A ação é portanto intelectual e exige. uma  constante aprendizagem. Por outro lado, o acontecimento é uma interferência que não encontra a presença de um agente que se confronta com a situação sendo surpreendido pois não é ele que a realiza, mas é afetado por ela ou ocorre de forma não intencional. 
No exemplo do texto, podemos classificar a tempestade como um acontecimento, pois esta é provocada pela natureza em si e não por um agente humano. Encontramos também neste texto de Savater uma ação que vai ser realizada: enfrentar o temporal, ou largar a mercadoria ao mar. Neste último caso podemos perceber que, se for essa opção tomada pelo capitão do navio, existem intenções e motivos. Sabemos isto, pois todas as ações, na sua rede conceptual, apresentam quatro aspetos fundamentais para a caracterizar, explicar e distinguir: a intenção, o motivo, a deliberação e a decisão. Se analisarmos o texto, observamos que, caso o capitão lance a carga borda fora, a sua intenção ou propósito é baseada em desejos e crenças. Ou seja, pelo desejo de “salvar a sua vida e a da tripulação”, pois acredita que é essa a única forma de salvar o barco e os seus homens. Por outro lado, para entendermos melhor esta intenção, precisamos saber o porquê ou a razão de fazer. Percebemos, então, que tomaria essa decisão, pois instalou-se uma tempestade tremenda e a sua mercadoria pesa muito. 
O terceiro ponto desta a rede concetual é o ato de deliberar. Aqui o indivíduo põe em cima de uma balança os prós e os contras, as vantagens e desvantagens de cada escolha que possa tomar. Só existindo este processo reflexivo, racional e intelectual é que nos encontramos na presença de uma ação. Aqui, o capitão encontra dois lados: o de “viver salvar-se e salvar os homens” e o de não querer “ficar sem a carga nem o ganho que ela representa”. 
Por último, depois desta reflexão pessoal que irá ocorrer, acontece o momento final de toda ação: o de decidir. O agente opta entre várias opções o caminho que achou normalmente mais pertinente, “conveniente” e vantajoso e que trará mais consequências positivas e menos negativas. Tal como Sartre disse o indivíduo “é condenado a ser livre”. Mesmo que tente fugir dessa liberdade, isso seria uma demonstração desse livre-arbítrio. Por isso mesmo, percebemos que mesmo que o capitão quisesse evitar ter de fazer essa escolha difícil, não poderia. Mesmo que decidisse não escolher, isso seria impossível, pois isso significaria que não ia tomar a decisão de largar a carga e iria enfrentar a tempestade, sendo isso mesmo uma escolha. Savater reforça esta ideia quando diz que “não pode evitá-lo e tem de  se decidir” e “é livre porque não pode evitar sê-lo”. 
Concluindo, só o agente da ação, depois de vários processos, desejos, crenças, motivos e deliberações, apesar das condicionantes impostas, vai optar, numa ação voluntária, consciente e intencional, o caminho que considerar mais favorável. 
Francisco Guedes, n10, 10F

Comentários

  1. Nem tudo o que o ser humano faz é uma ação.
    Para ser uma ação é necessário ser voluntário, consciente e intencional.
    No estudo da rede conceptual da ação, a filosofia procura distinguir entre as razões da ação e as causas da ação.
    As razões são os desejos, as crenças e os motivos.
    Carlos Bravo nº8 10ºJ

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