Como evolui a ciência? O confronto entre Popper e Kuhn


 

A filosofia da ciência evoluiu ao longo dos séculos, sendo que até ao século XIX se acreditava que as teorias científicas eram eternas porque estavam legitimadas pelo princípio do determinismo de La Place. Entretanto, Heisenberg introduz o princípio da incerteza e tudo mudou. Alguns filósofos vieram mostrar que a ciência está sempre em constante revisão, pois é impossível atingir a verdade eterna. Este deve ser o único ponto em comum entre Popper e Kuhn. Neste ensaio, eu vou abordar a temática do progresso da ciência: como é que evolui a ciência? E pretendo responder a esta pergunta segundo Popper, refutá-la com Kuhn e, depois, contra-argumentar e mostrar como a teoria de Kuhn é insuficiente. Por último, irei fazer uma breve conclusão.

Karl Popper é um filósofo que vai propor uma visão alternativa à visão indutivista e afirma que o conhecimento se faz a partir de conjeturas e refutações. Ou seja, Popper vai apresentar um novo método, o método hipotético-dedutivo ou conjetural que consiste na formulação de hipóteses ou conjeturas, a partir de um facto-problema que surge de conflitos decorrentes das nossas expectativas ou de teorias já existentes. As hipóteses são explicações provisórias e gerais que se aplicam a um dado fenómeno que exige uma demonstração. E a seguir a ter isto tudo estruturado, é preciso deduzir as consequências da tal conjetura, se esta for verdadeira. E no fim, é necessário testar a teoria, e para tal é preciso usar o critério de falsificabilidade, que consiste em encontrar o erro dentro da própria teoria, e tentar derrubá-la. Se sobreviver à crítica, então é corroborada, ou seja, está mais próxima da verdade, sendo verosímil. Se esta não for válida, então é uma teoria refutada que está à espera de ser reformulada.

Kuhn não concorda com  Popper, pois tem uma conceção da ciência diferente. Kuhn acredita que a  evolução da ciência é um processo descontínuo e cíclico, feito através de ruturas. Para Kuhn, o processo evolutivo da ciência é composto por um período de ciência normal, onde os cientistas assumem uma posição dogmática perante um paradigma. No entanto, mais cedo ou mais tarde vão surgindo anomalias que se acumulam acabando por assumir uma dimensão e um peso alarmantes. Dá-se então um período de crise que consiste na consciencialização, por parte dos cientistas, de que o paradigma já não é suficiente para responder a estes problemas. Já não encontram as peças do puzzle para a resolução dos problemas. Esta situação vai levar a um período de ciência extraordinária, onde a comunidade científica se questiona sobre todos os pressupostos e fundamentos do paradigma atual. Nesta altura a atividade científica é fértil acrescenta novas verdades. Dá-se então a mudança de paradigma ou a renovação do anterior - revolução científica. Assim, que o paradigma for aceite, entramos, de novo, no período de ciência normal, só que com um novo paradigma. A mudança de um paradigma para outro não é cumulativa, significa apenas um modo qualitativamente diferente de entender a realidade Assim, o progresso científico que decorre das grandes mudanças ou revoluções científicas, dada a incomensurabilidade dos paradigmas também não pode ser cumulativo nem contínuo.

Popper vai contra-atacar Kuhn, e dizer que relativiza a verdade e o conhecimento devido à incomensurabilidade dos paradigmas. Este processo de evolução  torna-se tão sofisticado e complexo que não tem nenhum fim à vista. A ciência de Kuh faz-se também a partir de critérios subjetivos que estão presentes em momentos de discussão e argumentação e que só podem ser compreendidos tendo em conta o contexto em que se inserem: político, económico ou ideológico. Assim,  não podemos encontrar um critério racional que justifique a mudança, apenas interesses subjetivos.

Em conclusão, Popper e Kuhn têm opiniões opostas, mas o processo de desenvolvimento da ciência de Kuhn acaba por ser mais realista, tendo em conta que o processo de Popper implica nunca aceitar uma teoria e estar sempre a tentar encontrar um erro.

Mafalda Carvalho nª15 11ºF

Comentários

  1. Kuhn, ao tentar descrever o progresso científico pela sua conceção, afirma, tal como Popper que a verdade é inalcançável. No entanto, a explicação é diferente: esta pertence à comunidade científica. Durante o período de ciência normal, o cientista aceita o modelo científico, ou paradigma, escolhido pela sua comunidade. Neste período, o cientista não só é conservador, isto é, resiste à mudança, como não admitirá na sua comunidade cientistas que questionem, segundo os ideais de Popper, o paradigma em vigor. O cientista será subjetivo nas suas observações, mostrando à comunidade as que verificam o paradigma e ignorando, ou "etiquetando" as anomalias, observações que não são explicadas por este. Além disso, ao afirmar a incomensurabilidade dos paradigmas, Kuhn refuta totalmente a tese de Popper da verdade como ideal regulador à qual o progresso nos tenta levar. Isto significa que não se pode dizer que um paradigma esteja mais próximo da verdade do que outro, já que cada um resolve os problemas para os quais foi desenhado. Assim, mesmo após uma revolução científica, ou uma mudança de paradigma, não podemos dizer que a ciência tenha melhorado de algum modo, apenas que resolve os problemas que é necessário resolver naquele instante.
    Rodrigo Marques, 11E

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