Ao longo deste ensaio
filosófico procurarei, no âmbito da filosofia política, discutir o problema da
interferência do Estado numa sociedade justa. E a questão emerge: - Deve o
Estado interferir na propriedade privada dos cidadãos? Qual é a sua função?
Considero pertinente a discussão deste tema uma vez que a justiça é um direito
fundamental do ser humano. Para além disto, o debate sobre a importância de
termos uma organização social é incontornável e uma preocupação que vem de
Aristóteles com a defesa da perspetiva naturalista. A interferência do Estado
na riqueza de cada um, assim como o seu papel devem continuar a ser abordados e
não podem ser descurados. Para responder a este problema existem várias
teorias, mas nós vamos debruçar a nossa atenção em dois autores. A primeira é a
teoria de justiça como equidade, de John Rawls, e a segunda é a teoria da meritocracia
de Michael Sandel. Neste texto argumentativo defenderei a tese de John Rawls
que promove a interferência do Estado na propriedade privada. Num primeiro momento
irei apresentar um argumento de Rawls que defenda a sua perspetiva, seguido de uma
objeção de Sandel e por fim irei expor a resposta de Rawls a essa objeção. Para
concluir, apresentarei a minha opinião de concordância com Michael Sandel.
John Rawls, libertista igualitário,
fundamentou a sua teoria na perspetiva de Locke. Assim sendo, concorda com a passagem
do Estado de natureza para a sociedade civil ter sido realizada através de um
contrato social que é metafórico pois não passa de um acordo tácito. Rawls apenas
acrescenta as condições em que deve ser “assinado”, para serem escolhidos os princípios
da justiça. O autor leva-nos a realizar uma experiência mental em que todos se encontram
na mesma posição (posição original) que garante a universalidade e a racionalidade.
Para além disto, todos estamos cobertos pelo véu da ignorância, ou seja,
ninguém sabe quem é ou as condições sociais e económicas que possui. Este véu
simboliza a imparcialidade, onde todos querem o melhor no pior cenário possível.
Nesse sentido, podemos referir a regra maximin que pretende maximizar os
mínimos o que garante que todos tenham uma vida relativamente boa e assim
consigam “manter uma situação relativamente justa” nas palavras do filósofo.
Sandel, na esteira de Locke, rejeita
as condições impostas por Rawls quando se trata da “assinatura” do contrato. Com
efeito, o véu da ignorância não garante a imparcialidade pois é possível que
alguém possa arriscar. De facto, para um comunitarista, não é possível que os
princípios de uma sociedade justa sejam escolhidos sem uma conceção prévia do
bem. Assim, com o véu da ignorância, as pessoas estão despojadas das suas
experiências e não sabem quem são. Para Sandel, estes princípios precisam de
ser determinados em comunidade, para todos: “refletirem sobre o significado da
vida boa” (in Justiça, M. Sandel). Assim, o Estado deve premiar o
esforço e o trabalho de todos os que se destacam pelo mérito. De facto, segundo
a teoria da meritocracia, a organização social deve recompensar e valorizar quem
trabalha mais, independentemente de a pessoa ter sido beneficiada ou
prejudicada na “lotaria da vida”. Todavia, cada um deve pagar um imposto que
posteriormente será investido em infraestruturas que sirvam os mais
necessitados tanto como os mais abastados.
Rawls discorda desta perspetiva pois
realça que a maneira como são designados os princípios, a redistribuição da
riqueza (aplicação de imposto investido em infraestruturas) e a teoria da
meritocracia não garante. a justiça social. Efetivamente, segundo um libertista,
esta redistribuição da riqueza contribui para o aumento do fosso entre ricos e
pobres, não cumprindo os princípios e requisitos da teoria de Rawls que avança
com a ideia mestra de que uma sociedade é justa quando combina o máximo de
liberdade com a máxima igualdade, obedecendo ao princípio da liberdade e ao
princípio da igualdade respetivamente. A redistribuição da riqueza segundo Sandel
não se alinha com a teoria da justiça como equidade. Esta promove a igualdade
de oportunidades e o princípio da diferença quando toca à ajuda do Estado na
vida de cada cidadão (uns requerem mais apoio que outros). Garante também a
redistribuição da riqueza dos mais favorecidos para os mais desfavorecidos para
equilibrar a balança.
Para concluir, a minha
opinião segue os princípios emanados da tese comunitarista de Michael Sandel. Concordo
com a perspetiva deste autor uma vez que defende uma tese mais coerente apoiada
em argumentos consistentes. De facto, a teoria do mérito incentiva ao aperfeiçoamento
de cada um para que seja, de seguida, recompensado. O Estado interfere na
propriedade privada seja com benefícios, seja com impostos os quais levam à construção
das infraestruturas utilizadas por todos os cidadãos, sendo eles mais ou menos
favorecidos.
Ana Guerra, nº1, 10ºB
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