Ao longo da
história, vários filósofos tentaram encontrar uma maneira de definir “verdade”
e de a compreender. Assim, foram questionando a sua objetividade e a sua
correspondência com a realidade. Por isso, ao longo deste ensaio, procurarei
discutir o problema da verdade e a questão que emerge será: Poderemos falar de
verdade na ciência? No contexto da
filosofia científica, Karl Popper e Thomas Kuhn obtiveram visões contrárias em
relação a este problema. Neste ensaio, defenderei a tese de Kuhn sobre a verdade
científica, criticarei a visão falsificacionista de Popper, responderei às
críticas feitas à tese Kuhniana e por fim, darei a minha opinião final.
Kuhn, na Estrutura das revoluções científicas, argumenta que a ciência
progride de forma linear, ou seja, por mudança de paradigmas. Os paradigmas são
um conjunto de métodos, ideias e valores que são partilhadas por uma comunidade
científica. Existe o período de ciência normal, onde os cientistas trabalham
sobre um paradigma, na tentativa de resolver os problemas nela assentes. No
entanto, quando um conjunto de problemas aos quais não se consegue dar
resposta, se acumula, ou seja, as anomalias, tornam o paradigma insustentável,
ocorrendo uma crise que se resulta numa revolução científica, na qual um novo e
melhorado paradigma, substitui o anterior: “Trata-se de uma reconstrução do
campo de estudos a partir de novos fundamentos.” (A estrutura das revoluções
científicas). Isto mostra-nos que a verdade científica não é absoluta, e
que depende do paradigma vigente. Por isso, dizemos que os paradigmas são
incomensuráveis. Um paradigma não pode ser julgado pelos critérios de verdade
do paradigma a que se lhe antecede, o que é verdade num paradigma pode não ser
considerado verdade noutro, ou seja, a verdade não poder ser tratada como uma
questão que muda ao longo do tempo, mas sim como algo que muda consoante a
mudança paradigmática. “Num certo sentido os proponentes de paradigmas rivais
praticam a sua atividade em mundos diferentes.”
Existem diversas objeções por
parte dos críticos acerca da tese de Thomas Kuhn, como por exemplo em relação à
incomensurabilidade dos paradigmas. O facto de estes conduzirem a um pensamento
relativista da verdade, uma vez que esta apresenta diferentes versões do que é.
Muitos filósofos argumentam, também, que
a ciência avança porque nos aproximamos da realidade. Se os paradigmas se
substituem por novos com teorias diferentes, isso significa que elas se
aproximam da verdade.
Porém, Kuhn responde a todas estas críticas. Primeiro, nega ser
relativista: “Embora a tentação de representar esta posição como relativista
seja compreensível, a descrição parece-me errada”, explica Kuhn no seu livro.
Diz que a ciência apenas avança na tentativa de resolver
problemas, mesmo que não possamos dizer que ela se aproxime de uma verdade
absoluta. Em segundo lugar, embora novas teorias possam ser mais bem
desenvolvidas e eficazes, isso não significa que estejam mais perto da verdade
final como muitos críticos apontam, são diferentes logo não podem ser
comparadas.
Em relação à tese de Popper, em contrapartida, a falsificabilidade é o
método usado. Assim, Popper diz-nos que a maneira mais correta de chegar à
verdade será através da refutação das premissas. As teorias nunca poderão ser
confirmadas, apenas refutadas. Desta maneira, haverá uma maior possibilidade de
encontrar um erro, melhorando as teses para que se possam aproximar cada vez
mais da verdade. Para Popper não existem o conceito de “teorias verdadeiras”,
mas sim verosímeis, teorias próximas da verdade que não foram refutadas até ao momento e por essa razão são corroboradas porque ainda não foi possível encontrar um erro/falha.
Mas esta visão de Popper, apresenta bastantes limitações. A falsificação
raramente é usada pela comunidade científica, uma vez que a permanente
refutação das teorias não permite que haja uma evolução da ciência. Refutar as
teorias só mostra falta de confiança na mesma. Além disso, Popper afirma que
podemos comparar teorias para que nos consigamos aproximar mais da verdade, o
que ignora o problema da incomensurabilidade, destacado por Kuhn. Teorias
pertencentes a paradigmas diferentes, utilizam linguagens e conceitos
diferentes, sendo impossíveis de ser comparados entre si.
Finalizando a análise seguinte, posso concluir que a tese de Kuhn é
bastante mais fiável do que a tese de Popper uma vez que considero que o
progresso científico não resulta através do método das refutações e aproximação
à verdade, mas sim pela mudança de paradigmas que, em cada um alteram a sua
definição e criam os seus próprios critérios acerca da verdade. A verdade científica, deve ser entendida como
um conceito que depende do paradigma onde está inserido, o que nos permite
entender mais acerca da evolução científica.
Bibliografia:
-Kuhn, Thomas, Estrutura de revoluções científicas, Bertrand, 2019.
- PowerPoint da professora
A falsificabilidade é um critério de verdade que afirma que uma teoria deve ser passível de ser testada e, eventualmente, refutada por experiências e observações. Isto é, uma teoria só deve ser considerada científica se for possível comprovar se é falsa. Popper criticava o método indutivo, que procura provar teorias com evidências, acabando por as generalizar, e, por isso, o filósofo defendia que a ciência avança na tentativa de refutar as próprias teorias.
ResponderEliminarO debate entre Popper e Kuhn sobre a verdade científica reflete duas visões profundamente distintas sobre o progresso da ciência. Um ponto central de discordância entre ambos é a questão da incomensurabilidade dos paradigmas, defendida por Kuhn, e a possibilidade de comparação entre teorias, proposta por Popper. Kuhn argumenta que diferentes paradigmas operam com linguagens e pressupostos distintos, tornando impossível uma avaliação objetiva entre eles. Para ele, a ciência não se aproxima de uma verdade absoluta, mas vai transformando-se de acordo com novos conhecimentos. Já Popper, ao defender a falsificabilidade, acredita que as teorias podem ser comparadas de forma objetiva, aproximando-se cada vez mais da verdade, ainda que nunca a alcancem completamente.
ResponderEliminarEssa diferença de perspectivas levanta questões fundamentais sobre como entendemos o progresso científico. Se Kuhn estiver correto, cada mudança de paradigma representa uma reconstrução completa do conhecimento, sem que possamos dizer que estamos mais perto da verdade final. Por outro lado, se Popper estiver correto, a ciência avança de forma cumulativa, corrigindo erros e desenvolvendo teorias cada vez mais precisas. Esse debate continua relevante, pois influencia a forma como avaliamos a objetividade da ciência e os critérios usados para definir conhecimento válido.
Matilde Moreira 11i n16
O critério da verificabilidade diz nos que uma teoria é científica apenas se consistir em afirmações empiricamente verificáveis,isto é ,apenas se for possível verificar pela experiência aquilo que ela afirma.
ResponderEliminarMiguel Peixoto nº14 11ºF